Os Livros Estão Sempre Sós
Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto
do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar.
Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas
lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós.
Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como
nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.
A Memória é um Silêncio que Espera
O património do
silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as
prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas
apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem
apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de
papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.
Tisanas de Ana Hatherly
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